23.9.09

PESSOAS

Da estação de Fontana até à Zona Universitária são 30 minutos certinhos de metro, correndo a linha verde, L3. Parece-me ser o tempo necessário para uma pessoa cochilar/ir cochilando! A cabeça começa a ficar pesada, o pescoço desiquilibrado, as pálpebras caem sem querer, cerram-se os olhos. O metro pára de dois em dois minutos; leva o mesmo intervalo de tempo que eu a abrir os olhos e, por entre cabeças, ver em que paragem estou. Faço-o durante as três ou quatros primeiras paradas. Depois penso que ainda falta muito e relaxo. Perco a vergonha, deixo-me escorregar um bocadinho no banco e encosto a cabeça de uma maneira confortável. Ouço assobiar e penso que é alguém na rua, imaginando eu que estou no quarto. 'chicca, chicca, llegamos..es la ultima parada'. Acordo! É o senhor do metro [talvez o condutor] que está na porta a gritar por mim, com uma perna dentro i outra fora da carruagem vazia. 
As pessoas no metro são sempre diferentes, até o 'senhor condutor'! Quando por segundos desperto para ver onde estou vejo sempre caras diferentes, e nunca repetidas de um dia para o outro. Em vez daquele barulho irritante dos cochichos de quem tenta falar baixo próprios do autocarro nº10, que liga Ceira a Coimbra, ouvem-se as batidelas do mp3 das pessoas que estão à nossa volta. Mas eu até gosto mais assim, está cada um na sua vida e sem se meter na vida dos outros. Ninguém sabe quem sou, e eu não sei quem é ninguém, à excepção do acordeonista que uma vez por outra passeia na linha verde, abanando os seus cabelos lisos, cinzentos e oleosos, enquanto tenta cantar num espanhol esquisito, marcando os tempos com o seu chinelo que, arrisco a dizer, se impõem mais que a própria voz, ou até mesmo o acordeão [fico sempre com a ideia que é tocado aleatoriamente]. Remata sempre com um 'gracias, muchas gracias, merci, merci!'. Mas quando ele está eu não durmo!

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